domingo, 14 de dezembro de 2008

Vanessa do Blog Fio de Ariadne

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Blogagem Coletiva - INTERLÚDIO COM FLORBELA
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Hoje é dia do aniversário de nascimento e morte da poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930) . É também o dia da blogagem coletiva promovida pelo blog Interlúdio sobre o tema Espanca. Fico muito feliz de homenageá-la. Florbela está entre os meus escritores preferidos desde nem sei quando. O livro do qual tiro o poema que trascrevo logo abaixo está com a lombada gasta. Livros de poemas têm este destino , ao contrários dos romances que, uma vez lidos são postos na estante. Livro de poemas são lidos a vida toda.
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Florbela teve uma existência atormentada e quase nada publicou em vida. Quando o fez , foi a suas próprias expensas e com tiragem reduzida. Florbela via a realidade com olhos de artísta e traduzia esta visão para nós simples mortais. Por estes motivos, esta mulher portuguesa fez-me lembrar, guardadas as devidas proporções, um homem holandês , que como ela, amava seu irmão. Ele também precisou morrer atormentado para viver eternamente para a cultura mundial.
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Florbela escreveu com o que tinha. Sua condição feminina não só não a impediu de criar, como a moveu a demonstrar que por trás da aparente inércia reservada ao papel social da mulher, havia pensamento. E o que para mim é o mais interessante, que esta mulher poeta também é capaz de fingir-se de homem e escrever poemas com eu-lírico masculino. O poema que escolhi para esta coletiva é exemplo disto:
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Verdades Cruéis
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Acreditar em mulheres
É coisa que ninguém faz;
Tudo quanto amor constrói
A inconstância desfaz.
Hoje amam, amanhã 'squecem,
Ora dores, ora alegrias;
E o seu eternamente
Dura sempre uns oito dias!...
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28/2/1916
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E, por falar em poeta fingidor, apresento um segundo poema, que não é de Florbela, mas para Florbela e foi encontrado em papel datilografado, sem assinatura e sem data no espólio de Fernando Pessoa ( 1888-1930)
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À MEMÓRIA DE FLORBELA ESPANCA
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Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Tua alma, assim como a minha,
Rasgando as núvens pairava
Por cima dos outros,
À procura de mundos novos,
Mais belos, mais perfeitos, mais felizes.
Criatura estranha, espírito irriquieto,
Cheio de ansiedade,
Assim como eu criavas mundos novos,
Lindos como os teus sonhos,
E vivias neles, vivias sonhando como eu.
Dorme, dorme, alma sonhadora,
Irmã gémea da minha!
Já que em vida não tinhas descanso,
Se existe a paz na sepultura:
A paz seja contigo!
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Achou o post sem cor? Isto eu deixo por conta do holandês...
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O Jardim dos Poetas - Vincent Van Gogh ( 1888)
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Os textos participantes desta blogagem serão publicados num espaço especialmente criado para este fim : Interlúdio Com Florbela.
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*A foto de Florbela é do google images
** A opinião literária emitida neste post é a de uma leitora livre, não sou especialista em literatura.
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