domingo, 28 de dezembro de 2008

Blog Nogthingandall

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Beijo imagem daqui
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Horas profundas, lentas e caladas,
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...
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Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata pelas estradas...
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Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos.
Vestiu-os o luar de sedas puras...
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Sou chama e neve branca e misteriosa...
E sou, talvez na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
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(n. Vila Viçosa, 8 Dec. 1894; m. Matosinhos 8 Dec 1930)
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Luar
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Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...
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Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!
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Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!
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E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...
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(n. Vila Viçosa, 8 Dec. 1894; m. Matosinhos 8 Dec 1930)
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Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
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Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
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Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
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E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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NR: Ah! Quero ver-te hoje à tardinha!...
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Cantigas leva-as o vento...
Florbela Espanca
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A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade!
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(n. em Vila Viçosa, 8 Dez 1894; m. Matosinhos, 8 Dez 1930)
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Noite de Saudade
Florbela Espanca
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A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
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Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
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Por que és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!
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Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!
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(n. Vila Viçosa, 8 Dec. 1894; m. Matosinhos 8 Dec 1930)
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Nothingandall associa-se à iniciativa do Interlúdio, relembrando Florbela
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2 comentários:

Anônimo disse...

Tópico exurbitante nesta página, visões assim demonstram valor ao indivíduo que reflectir neste espaço :/
Dá muito mais de este blogue, a todos os teus leitores.

Anônimo disse...

Merci d'avoir un blog interessant