domingo, 14 de dezembro de 2008

Juca do Blog Lavanderia Virtual

.

http://lavanderiavirtual.blogspot.com/
.

Senhoras e Senhores, tenho o prazer de inseri-los num mundo mágico, o mundo de uma das maiores poetisas portuguesas de todos os tempos: Florbela Espanca!



.

.
Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
.
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
.
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
.
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
.

____________________________________________________________________

.
A sua Poesia é de uma imensa intensidade lírica e profundo erotismo. Cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina sem que alguns críticos não deixem de lhe encontrar, por isso mesmo, um "dom-juanismo no feminino".
.
O sofrimento, a solidão, o desencanto, aliados a imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito, constituem a temática veiculada pela veemência passional da sua linguagem. Transbordando a convulsão interior da poetisa pela natureza, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas.
.
Florbela Espanca não se liga claramente a qualquer movimento literário. Próxima do neo-romantismo de fim-de-século, pelo carácter confessional e sentimentalista da sua obra, segue a poética de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, pode considerar-se influência de Antero de Quental e de Camões.
.
Só depois da sua morte é que a poeta viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso, inicialmente, a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli.
.
Fonte:
Mulheres Portuguesas do Século 20
.
____________________________________________________________________
.
Quer se aprofundar um pouco mais? Leia o artigo abaixo:
.
Ser Poeta: imagens da metapoesia em Florbela Espanca
.
Autoria: André Luiz Alves Caldas Amóra (PUC-Rio)

.
Um dos aspectos relacionados à metapoesia em Florbela diz respeito à imagem do eu-lírico enquanto poeta. O poema Ser poeta, do livro Charneca em flor, apresenta a preocupação quanto ao sentido da existência, e o próprio título parece indiciar e sintetizar o que a figura do poeta representa:
.
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
.
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
.
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
.
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

.
Logo na primeira estrofe, percebemos a superioridade decorrente do fato de se ser poeta, pois quando o sujeito lírico afirma que morde como quem beija, demonstra a capacidade de transformação do bruto e doloroso em algo singelo e suave – como uma espécie de poder alquímico, que transforma o metal vil em ouro. Quando são aproximados os sintagmas mendigo e rei, notamos a presença dos arquétipos do desvalido e do todo-poderoso, que aqui aparecem reformulados, uma vez que aquele – que vive em miséria – tem o poder de dar o que poderia ser dado apenas por um rei. O seu reino, neste caso, possui a riqueza da criação e da imaginação, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente – como nos conhecidos versos pessoanos.
.
Na segunda estrofe, notamos a plenitude do poeta quando o eu-lírico diz ter o esplendor de mil desejos, porém sem nem saber ao certo o que é desejado. Este esplendor confere a ele uma transcendência, isto é, a superação de sua condição humana, vista nas imagens do astro que flameja ou do condor. Além de o poeta irradiar luz própria, identifica-se com a figura do condor, que tem como principais características o seu voar mais alto e a sua solidão:
.
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

.
No primeiro terceto deste soneto, é clara a ânsia de se alcançar a plenitude, quando o poeta diz ter fome e sede de Infinito. Podemos dizer que o ser poeta é viver em constante batalha, e que o elmo – espécie de capacete utilizado por guerreiros em tempos anteriores – simboliza a arma mais preciosa: a imaginação. Logo em seguida, verificamos que tal batalha – a da escrita – tem o que é de mais valioso e suave, quando surgem as imagens do oiro e do cetim:
.
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

.
A questão da plenitude é novamente enfocada no último verso da terceira estrofe. Neste caso, há a presença de uma espécie de grito poético, em que o sujeito lírico afirma que ser poeta é condensar o mundo num só grito, alcançando, assim, a plenitude da expressão. No último terceto, a assertiva é seres alma, e sangue, e vida em mim representa a fusão do espírito e do corpo, evidenciando-se a plenitude do sentir e do viver. Vale ressaltar que a alma pode ter também a conotação do princípio da vida e o sangue o veículo, sugerindo a totalidade existencial do ser poeta. No verso E dizê-lo cantando a toda a gente!, o eu-lírico nos faz crer que não basta trazer a síntese do que é abstrato e concreto, e sim transformá-la em poesia, pois, além de sentir em plenitude e com totalidade, dá conta disso na expressão poética:
.
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
.
Fonte: Ser Poeta: imagens da metapoesia em Florbela Espanca
.

.

Clique aqui e baixe a obra "Florbela Espanca: Sonetos Completos" (reprodução fotográfica do livro que reúne quase toda a obra de Florbela) em formato PDF. Material está disponível para download no site 4Shared, não sendo sua hospedagem de responsabilidade do autor deste blog!

Nota: Luís Represas (cantor português e ex-integrante do grupo Trovante) canta o poema Ser Poeta, musicado por João Gil e intitulado Perdidamente.
.


.
Este post faz parte da blogagem coletiva "Interlúdio com Florbela", de iniciativa da Flor, autora do blog Interlúdio.

Um comentário:

Juca disse...

Flor, ficou lindo o blog só com as postagens da coletiva! Obrigado por colocar aqui meu post! \o/\o/

Ah, estou te enviando hoje o código html da música! Desculpe pela demora, mas fiquei sem micro por quase duas semans!

Bom final de semana! :=)

Beijos!