domingo, 14 de dezembro de 2008

Andrea Motta do Blog Conversa de Portugues

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http://conversadeportugues.blogspot.com/
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A editora do blog Interlúdio , sugeriu há algum tempo uma nova blogagem coletiva, Interlúdio com Florbela , cujo objetivo é homenagear a poetisa portuguesa Florbela Espanca, nascida em 8 de dezembro de 1894 e morta em 1930.
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Florbela nasceu no Alentejo. Era filha de Antónia da Conceição Lobo e João Maria Espanca. Não se sabe o motivo, mas João só a reconheceu como filha legítima 19 anos após sua morte, apesar de tê-la educado com a segunda esposa, a após a morte de Antónia. A poetisa fora, então, registrada como "filha de pai incógnito", assim como o irmão Apeles Espanca.
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Florbela graduou-se em Letras, em 1917 e, no mesmo ano, matriculou-se em Direito. Durante sua graduação teve contato com importantes intelectuais e publicou sua primeira obra: Livro de Mágoas. Sua obra não apresenta características que a prendam a um momento literário específico, mas é fortemente marcada por um caráter confessional, em que se podem ver as frustrações , os desejos da poetisa.
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Lágrimas ocultas
Florbela Espanca
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Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
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E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
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E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
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E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
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Escreve-me ...
Florbela Espanca
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Escreve-me!Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!
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Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!
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"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!
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Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
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Florbela Espanca
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Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...
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As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas
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Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...
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Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...
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Sonhos
Florbela Espanca
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Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir...
Que se sonhasse a chorar...
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Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento...
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Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
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Despedaçar esses laços!
É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!
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Fonte de pesquisa: Jornal de Poesia.
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