sábado, 13 de dezembro de 2008

Lunna do Blog Acqua

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“Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse a chorar isto que sinto!”
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Em 1903, aos sete anos, Florbela fez seu primeiro poema, intitulado: “A Vida e a Morte”. Desde o início percebe-se claramente sua precocidade e preferência aos temas mais escusos e melancólicos. Talvez um indício da poesia em seus olhos ou da doença que a acometeria anos depois…
Sua vida foi repleta de intranquilidades, a poeta se vê refém de uma Neurose, doença pouco comum para a época e muitos dos acontecimentos que nortearam sua vida, como a morte de seu irmão em 1927, contribuíram para o agravamento da doença. Se algum dia ela teve uma definição singular sobre si mesma, podemos dizer que muitos fatos fizeram com que ela nunca mais fosse a mesma. A escrita contudo, seguia sendo seu grito silencioso…
Em 1930, ela começa a escrever seu Diário de Último Ano - sendo que em 02 de dezembro de 1930, Florbela escreve nele a seguinte frase: …”e não haver gestos novos nem palavras novas.” Depois veio o silêncio, o diário não mais recebeu palavras da poeta…
Às duas horas do dia 8 de dezembro de 1930 – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal.
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Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
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De todos os seus livros, o que mais me cativa é “As Máscaras do Destino”, que a poeta escreveu para seu irmão, após seu falecimento. Eu gosto mais dos últimos quatro contos, onde a máscara da morte é mais intensa e convence. Acho que a primeira parte do livro poderia ser toda em verso, porque o elemento da prosa não consegue ser tão forte. A descrição nessa segunda parte do livro te faz incorporar a leitura e tomar para si a dor sentida por Florbela diante da morte do irmão. O livro é uma clara visão da autora sobre o fato que aparentemente a assombrava… Vale a pena ler, mas se você ainda não é um leitor de Florbela recomendo que comece por suas poesias…
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Triste Destino
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Quando às vezes o mar soluça tristemente
A praia abre-lhe os braços e deixa-o a gemer;
Embala-o com amor, de leve, docemente,
E canta-lhe cantigas pra adormecer!
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Quando o Outono leva a folha rendilhada,
O vestido real da branda Primavera,
O rio abre-lhe os braços e leva amortalhada
A pequenina folha, essa ideal quimera!
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O sol, agonizante e quase moribundo,
Estende os braços nus, alegre, para o mundo
Que o faz amortalhar em púrpura de lenda!
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O sol, a folha, o mar tudo é feliz! Mas eu
Busco a mortalha minha até no alto céu!
E nem a cruz pra mim tem braços que m´estenda!
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Noite Trágica
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O pavor e a angústia andam dançando…
Um sino grita endechas de poentes…
Na meia-noite d´hoje, soluçando,
Que presságios sinistros e dolentes!…
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Tenho medo da noite!… Padre nosso
Que estais no céu… O que minh´alma teme!
Tenho medo da noite!… Que alvoroço
Anda nesta alma enquanto o sino geme!
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Jesus! Jesus, que noite imensa e triste!
A quanta dor a nossa dor resiste
Em noite assim que a própria dor parece…
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Ó noite imensa, ó noite do Calvário,
Leva contigo envolto no sudário
Da tua dor a dor que me não ´squece!
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Esse post é parte integrante da Blogagem Coletiva Interlúdio com Florbela promovida pelo blog Interlúdio.

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