domingo, 28 de dezembro de 2008

Maria Luiza do Blog Simplesmente Maria

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BELA FLOR DE AMOR
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Hoje quero falar de AMOR.
Amor lembra flores, cartas, beijos, poemas, luares, promessas, saudades.
Há uma poeta portuguesa, do início do século XX, que viveu pouco (apenas trinta e seis anos), mas amou muito (teve três maridos) e sofreu muito por amor também.
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Florbela Espanca, como muitos escritores consagrados, só foi lida e reconhecida depois de morta, pois, enquanto viveu, precisou bancar a edição de seus livros e recebeu dois tipos de crítica, ambas funestas para um autor: elogios vagos, superficiais, benevolentes ou uma crítica depreciativa, preconceituosa, apoiada apenas em valores morais e/ou religiosos, pouco relacionados com a verdadeira literatura.
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Além da condição feminina (até então pouco abordada), Florbela usou a dor como matéria-prima capaz de criar e transfigurar o mundo.
Sobretudo a morte do irmão, a quem devotava enorme afeto, fez com que ela vivesse atormentada, com os nervos em frangalhos, fazendo uso de remédios para dormir, dos quais se valeu também para morrer.
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Sua biografia conturbada é facilmente associável à sua obra, numa justificativa sem bases.
Ela dizia: "Eu sou hoje o que fui sempre (...) uma figueira nunca poderá dar rosas."
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Rebelde, irreverente, avessa à publicidade, à glória, à crítica, aos jornalistas, sem editor, sem dinheiro, orgulhosa, quem melhor pode falar de Florbela Espanca é ela mesma, através de seus poemas.
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Selecionei um dos meus preferidos para compartilhar com vocês.
Espero que gostem e que leiam mais esta poeta notável que hoje completaria setenta e oito anos, caso não tivesse decidido encerrar sua existência no dia do seu aniversário, quando completava trinta e seis anos, a 8 de dezembro de 1930.
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Escreve-me...
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Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!
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Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu, já e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração
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"Amo-te!" cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!
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Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
27/04/1916
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Este post faz parte da Blogagem Coletiva Interlúdio com Florbela, promovida pelo Blog Interlúdio.

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