sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sol do Blog Flores e Pérolas


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INTERLUDIO COM FLORBELA
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Ambiciosa
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Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar ...
Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar ... __Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar !
Minh’ alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus !
O amor dum homem ? __Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada ... Um homem ? __Quando eu sonho o amor de um Deus ! ...
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Loucura
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Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada Pavorosa! Não sei onde era dantes. Meu solar, meus palácios, meus mirantes! Não sei de nada, Deus, não sei de nada! ...
Passa em tropel febril a cavalgada Das paixões e loucuras triunfantes! Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes! Não tenho nada, Deus, não tenho nada! ...
Pesadelos de insônia, ébrios de anseio! Loucura a esboçar-se, a enegrecer Cada vez mais as trevas do meu seio!
Ó pavoroso mal de ser sozinha! Ó pavoroso e atroz mal de trazer Tantas almas a rir dentro da minha!
Florbela Espanca (1894-1930)
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Este post faz parte da blogagem coletiva “INTERLÚDIO COM FLORBELA” promovida pelo blog Interlúdio.

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