domingo, 28 de dezembro de 2008

Flor do Blog Interlúdio

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Florbela - Eterna Flor
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“Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!”
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Florbela Espanca
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Tornou-se eterna essa minha Florbela,
Seus poemas romperam o tempo...
De saudade, são 78 anos!
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Todo esse tempo sem você...
mas estás aqui... e aqui ficarás para sempre!
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A Noite Desce
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Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce… Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
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Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
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A noite em sombra e fumo se desfaz…
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!
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E a noite vai descendo, sempre calma…
Meu doce Amor tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!
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Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade
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Para Florbela, amar é um gesto mágico:
é uma experiência única, é a força motriz da sua alma, e por isso quer amar, amar perdidamente.
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Sua obra mostra está impregnada de ampla gama de estados emocionais ligados ao amor, desde a exaltação dos sentidos (entrega por inteiro), até ao desejo de sacrifícios, oscilando entre momentos de plenitude e de grande fragilidade emocional, decorrentes de relações amorosas frustradas ou que não a preencheram.
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Parece que não consegue encontrar satisfação no amor, oscilando entre momentos de ternura e outros de desencontro e sofrimento.
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Em Florbela, o amor é sempre um amor perdido,
mesmo antes de ser encontrado;
acarreta sucessivas desilusões, que ela procura compensar com um novo amor, que lhe traz novas desilusões.
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É um amor impossível, que só mostra mentiras e lhe traz desilusões,
como mostra o soneto «Princesa Desalento».
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Princesa Desalento
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Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É revoltada, trágica, sombria,
Como galopes infernais de vento!
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É frágil como o sonho dum momento,
Soturna como preces d'agonia,
Vive do riso duma boca fria!
Minh'alma é a Princesa Desalento…
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Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
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O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta…
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(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)
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À Florbela
(em sua memória)
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Sou eu, Florbela! Aquele que buscaste.
Falam de mim Teus versos de Menina.
Tua boca p’ra mim se abriu, divina,
mas foi só o Luar que Tu beijaste.
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Hás-de voltar, Florbela!… Em débil haste,
por entre os trigos cresce, purpurina,
a mais fresca papoila da campina
que, só por me veres, não cortaste.
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Eu tenho três mil anos: sou Poeta.
Surgi dos lábios secos dum asceta,
de uma oração que Deus deixou de parte.
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Redimi tantos corpos, tantas vidas
neles vivi, que sinto já nascidas
asas com que subir para alcançar-Te
(…)
{Sebastião da Gama}
Arrábida, 6-11-1943
(«Revista Alentejana»)
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