domingo, 14 de dezembro de 2008

Dione do Blog Gotas de Poesia

.

http://vita-gotasdepoesia.blogspot.com/
.

8 de dezembro - Florbela Espanca
.


.
Florbela Espanca
8 de Dezembro, aniversário do nascimento (1884) e da morte (1930) da poetisa portuguesa Florbela Espanca. Florbela Espanca foi uma mulher à frente do seu tempo, com uma história de vida atribulada e sofrida. Mas de uma sensibilidade e de uma paixão imensa, que transpira em tudo o que escreve. E quem melhor que ela para se definir a si própria?
.
"Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas de um raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser um D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dar de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa! Toda, enfim, nesta frase a propósito de Delteil: "Très simple avec son enthousiasme à sa droite et son désespoir à sa gauche."
(Carta a Guido Battelli, 27 de Julho de 1930)
.
Foto de Rosa Gambóias
.
MEU PORTUGAL
.
Meu Portugal querido, minha terra
De risos e quimeras e canções
Tens dentro em ti, esse teu peito encerra,
Tudo que faz bater os corações!
.
Tens fado. A canção triste e bendita
Que todos cantam pela vida fora;
O fado que dá vida e que palpita
Na calma da guitarra aonde mora!
.
Tu tens também a embriaguez suave
Dos campos, da paisagem ao sol poente,
E esse sol é como um canto d'ave
Que expira à beira-mar, suavemente...
.
Tu tens,ó Patria minha, as raparigas
Mais frescas, mais gentis do orbe imenso,
Tens os beijos, os risos, as cantigas
De seus lábios de sangue!...
.
Às vezes, penso
Que tu és, Pátria minha, branca fada
Boa e linda que Deus sonhou um dia,
Para lançar no mundo, ó Pátria amada
A beleza eterna, a arte, a poesia!
.
Florbela Espanca
In Trocando Olhares
.
Foto de Rosa Gambóias
POETAS
.
Ai as almas dos poetas
Não as estende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
.
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.
.
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
.
Florbela Espanca
In Trocando Olhares
.
Foto de Rosa Gambóias
TRISTE DESTINO!
.
Quando às vezes o mar soluça tristemente
A praia abre-lhe os braços e deixa-o a gemer;
Embala-o com amor, de leve, docemente,
E canta-lhe cantigas p'ra adormecer!
,
Quando o Outono leva a folha rendilhada,
O vestido real da branda Primavera,
O rio abre-lhe os braços e leva amortalhada
A pequenina folha, essa ideal quimera!
.
O sol, agonizante e quase morimbundo,
Estende os braços nus, alegre, para o mundo
Que o faz amortalhar em púrpura de lenda!
.
O sol, a folha, o mar tudo é feliz! Mas eu
Busco a mortalha minha até no alto céu!
E nem a cruz p'ra mim tem braços que m'estenda!
.
Florbela Espanca
In Trocando Olhares
.

Foto de Rosa Gambóias
DOCE MILAGRE
.
O dia chora.Agonizo
Com ele meu doce amor.
Nem a sombra dum sorriso,
Na natureza diviso,
A dar-lhe vida e frescor!
.
A triste bruma, pesada,
Parece, detrás da serra
Fina renda, esfarrapada,
De Malines, desdobrada
Em mil voltas pela terra!
.
(O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.)
.
As avezitas, coitadas,
'Squeceram hoje o cantar.
As flores pendem, fanadas
Nas finas hastes, cansadas
De tanto e tanto chorar...
.
O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.
É tudo um imenso véu.
Nem a terra nem o céu
Se distingue.Mas tu passas...
.
...E o sol doirado aparece.
O dia é uma gargalhada.
A natureza endoidece
A cantar.Tudo enternece
A minh'alma angustiada!
.
Rasgam-se todos os véus
As flores abrem, sorrindo.
Pois se eu vejo os olhos teus
A fitarem-se nos meus,
Não há de tudo ser lindo?!
.
Se eles são prodígios
Esses teus olhos suaves!
Basta fitá-los, mimosos,
Em dias assim chuvosos,
Para ouvir cantar as aves!
.
A Natureza,zangada,
Não quer os dias risonhos?...
Tu passas ... e uma alvorada
Pra mim abre perfumada,
Enche-me o peito de sonhos!
.
Florbela Espanca
In O Livro D'Ele
.
Foto de Rosa Gambóias
CARTA PARA LONGE
.
O tempo vai um encanto,
A Primeira 'stá linda,
Voltaram as andorinhas...
E tu não voltaste ainda!
.
Porque me fazes sofrer?
Porque te demoras tanto?
A Primevera 'stá linda...
O tempo vai um encanto...
.
Tu não sabes, meu amor,
Que, quem 'spera, desespera?
O tempo está um encanto...
E vai linda a Primavera...
.
Há imensas andorinhas;
Cobrem a terra e o céu!
Elas voltaram aos ninhos...
Volta também para o teu...
.
Adeus . Saudades do sol,
Da madressilva e da hera;
Respeitosos cumprimentos
Do tempo e da Primavera.
.
Mil beijos da tua q'rida,
Que é tua por toda vida.
.
Florbela Espanca
In O Livro D'Ele
.

Foto de Iván Utz
VÂO ORGULHO
.
Neste mundo vaidoso o amor é nada,
É um orgulho a mais, outra vaidade,
A coroa de loiros desfolhada
Com que se espera a Imortalidade.
.
Ser Beatriz! Natércia! Irrealidade …
Mentira … Engano de alma desvairada…
Onde está desses braços a verdade,
Essa fogueira em cinzas apagada? …
.
Mentira! Não te quis … não me quiseste,
Eflúvlos subtis dum bem celeste?
Gestos …. palavras sem nenhum condão.
.
Mentira! Não fui tua … não! Somente …
Quis ser mais do que sou, mais do que gente,
No alto orgulho de o ter sido em vão! …
.
Florbela Espanca
In Reliquiae
.

Foto de Armando Caldas
SÚPLICA(III)
.
A prece que eu murmuro, a soluçar
Ao Deus todo bondade e todo amor,
É rezada de rastos no altar
Onde a tristeza reza com a dor!
.
A minha boca reza-a comovida,
Chora-a meus olhos, beija-a o meu peito
Sonha-a minh’ alma sempre enternecida
Ao ver-te rir, ó meu Amor Perfeito.
.
Que o Deus do céu atenda a minha prece,
Embora eu saiba nesta desventura
Que Deus só ouve aquele que o merece!
.
Mas vou pedindo ao Deus de piedade,
Que te conceda anos de ventura,
Como dias a mim de inf’licidade!…
.
Florbela Espanca
In Trocando olhares
.

Foto de Bel P.
SOl POSTO
.
Sol posto. O sino ao longe dá Trindades
Nas ravinas do monte andam cantando
As cigarras dolentes… E saudades
Nos atalhos parecem dormitando…
.
É esta a hora em que a suave imagem
Do bem que já foi nosso nos tortura
O coração no peito, em que a paisagem
Nos faz chorar de dor e d’amargura…
.
É a hora também em que cantando
As andorinhas vão p’lo meio das ruas
Para os ninhos, contentes, chilreando…
.
Quem me dera também, amor, que fosse
Esta a hora de todas a mais doce
Em que eu unisse as minhas mãos às tuas!…
.
Florbela Espanca
In Trocando olhares - 29/07/1916
.

Foto de Iván Utz
SONHOS
.
Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…
.
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…
.
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
.
Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!
.
Florbela Espanca
In Trocando olhares - 12/08/1916
.

Foto de Vanda's

AQUELES QUE ME TÊM MUITO AMOR
.
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
.
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
.
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
.
Florbela Espanca
.











.
Este post faz parte da Blogagem Coletiva Interlúdio com Florbela,
promovida pelo Blog Interlúdio.
.

















Um comentário:

jean carlos r.braz disse...

oiiiiii
sora adorei todas as poesias....
te amoooo....
bjsssss.


by.jean