domingo, 14 de dezembro de 2008

Blog Círculo Literário de Santa Bárbara

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"...Eu quero amar, amar perdidamente. Amar só por amar..."
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Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
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Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
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Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
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Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo para me ver
E que nunca na vida me encontrou
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"Beija-me as mãos, Amor, devagarinho... como se nós dois nascêssemos irmãos, Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho... "
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O Blog Do Círculo Literário Barbarense presta um homenagem a "Mensageira das Violetas"
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Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém
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Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
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Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
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Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
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"Sou talvez a visão que alguém sonhou/Alguém que veio ao mundo prá me ver/E que nunca na vida me encontrou..."
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Florbela Espanca
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Nascimento:1894 /Vila Viçosa
Morte:1930
Época:Simbolismo
País:Portugal
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Filha de Antônia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém com a morte de Antónia em 1908, João e sua mulher Maria Espanca criaram a menina. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.
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Em 1903 Florbela Espanca escreveu o primeiro poema de que temos conhecimento, A Vida e a Morte . Casou-se no dia de seu aniversário em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir no curso de Direito, sendo a primeira mulher a frequentar este curso na Universidade de Lisboa.
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Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães.
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O Livro de Soror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto, e seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Laje. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.
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Tentou o suicídio por duas vezes em Outubro e Novembro de 1930, às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de Dezembro de 1930, utilizando uma dose elevada de veronal. Charneca em Flor viria a ser publicado em Janeiro de 1931.
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Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.
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Teus olhos têm uma cor
de uma expressão tão divina,
tão misteriosa e triste.
Como foi a minha sina!!!
É uma expressão de saudade
vagando num mar incerto.
Parecem negros de longe...
Parecem azuis de perto...
Mas nem negros nem azuis
são teus olhos meu amor...
Seriam da cor da mágoa,
se a mágoa tivesse cor.
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"Não és sequer a razão de meu viver, pois que tu és já toda a minha vida".
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Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
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É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
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É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
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E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
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"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente."
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Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
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"Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um."
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Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.
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Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.
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Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…
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Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas
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"A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento."
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Esperas...
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Não digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!
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a dona dos místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços…
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!
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Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!
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Espera… espera… ó minha sombra amada…
Vê que p’ra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontras neste
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"Amo todos os sonhos que se calam/De corações que sentem e não falam/Tudo o que é Infinito e pequenino!"
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"BLOGAGEM COLETIVA DE INTERLUDIO EM FLOR"
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