domingo, 21 de dezembro de 2008

Janaína Amado do Blog Enredos e Tramas

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http://enredosetramas.blogspot.com/
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Florbela Espanca - Sentimentos Expostos

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Este post integra a blogagem coletiva sobre Florbela Espanca proposta por Flor para hoje, 8 de dezembro, aniversário da grande poeta portuguesa.
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Descobri Florbela na adolescência, permanecendo desde então fiel à sua total falta de vergonha em expor, gritar, vociferar, uivar seus sentimentos ao mundo, inclusive os mais secretos e menos aceitos socialmente, em versos construídos com maestria. Creio que todos temos vontade de, vez ou outra, berrar ao mundo o quanto sofremos, o quanto nos sentimos sozinhos, abandonados, tristes, revoltados, inseguros, sem amor, auto-estima nem vontade de viver... Florbela diz isto por nós, com uma verdade e um despudor difíceis de alcançar. Seu grande tema é o amor irrealizado.
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Filha ilegítima, juntamente com seu irmão Apeles, de João Maria Espanca e da criada Antónia da Conceição Lobo, Florbela Espanca (1894 -1930) e seu irmão Apeles foram registrados como filhos de pai desconhecido. Contudo, ambos foram educados pelo pai e pela mulher dele, Antónia da Conceição Lobo. Estudante em Évora e acadêmica de Direito em Lisboa, Florbela ligou-se a movimentos literários e feministas, pulicando textos em revistas e jornais e dois excelentes volumes de poesias, Livro de Mágoas (1919) e Livro de Sóror Saudade (1923). As desilusões da vida amorosa — casou-se e se separou 3 vezes —, o intenso sofrimento devido à morte de seu adorado irmão Apeles, ao lado de sérios problemas de saúde conduziram a poeta a uma profunda depressão. Morreu aos 36 anos de idade, oficialmente de edema pulmonar.
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O pai a perfilhou só 19 anos após a morte dela, quando da inauguração de um busto de Florbela em Évora. Postumamente foram publicados outros livros da poeta, como Charneca em flor, além de diversos volumes de suas cartas.
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Para ilustrar a poesia de Florbela Espanca, escolhi estes dois sonetos:
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Anseios
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Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!
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Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!
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Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...
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Não 'stendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela,a soluçar...
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Amar
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Amar!Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...Mais
Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!
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Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
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Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
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E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
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